Pesquisa desenvolvida pela BGCI sugere que a exploração de madeira, a pecuária e a produção agrícola interferem diretamente nesse ponto

Um estudo publicado em setembro desse ano pela Botanic Gardens Conservation International (BGCI) colocou o Brasil entre os países com maior número de árvores selvagens ameaçadas de extinção, o equivalente a:

  • 788 espécies;
  • 20% do total global;
  • 42% das espécies endêmicas.

Quer saber mais? Continue no nosso artigo.

Analisando os dados divulgados pela BGCI

Apesar de ser revelada pela BGCI, a pesquisa State of the world’s trees foi desenvolvida através de uma parceria com diversas entidades. Entre as principais marcas envolvidas, estão a International Union for Conservation of Nature’s (IUCN) e algumas de suas ramificações internas, como a Global Tree Assessment (GTA).

Segundo levantamentos feitos por essas companhias a partir de uma base composta por 60 mil árvores distintas, existem 17,510 mil espécies ameaçadas de extinção ao redor do mundo. Além dessas, outras 440 possuem menos de 50 indivíduos de seu gênero na natureza, realçando a necessidade de observações mais direcionadas.

Na lista das nações mais predatórias, o Brasil amarga a segunda colocação, com 1.788 espécies em risco de extinção. Assim como citamos anteriormente, esses números representam 20% do total global ou 42% das espécies endêmicas do país.

Esse problema se mostra ainda mais intenso ao ser comparado a outras vertentes da destruição promovidas pela raça humana. Conforme apontou a BCGI, “(…) há duas vezes mais espécies de árvores ameaçadas globalmente do que mamíferos, pássaros, anfíbios e répteis ameaçados juntos”. Por isso, ao fazer declarações sobre o assunto, o secretário geral da entidade, Paul Smith, reforça que “(…) este relatório é um alerta para todos ao redor do mundo de que as árvores precisam de ajuda”.

Os resultados práticos dessas ações

Imagem de Incra – Aroeira do Sertão

Informações coletadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) indicam alguns dos reflexos imediatos desse extermínio. Segundo a entidade, aproximadamente oito espécies de árvores não foram encontradas na natureza nos últimos 50 anos, sendo elas:

  • Uma araucária

Araucaria angustifólia (bertol) o. kuntze

Podia ser encontrada em Minas gerais, no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em São Paulo.

  • Uma aroeira-do-sertão

Astronium urundeuva (fr.all.) engl

Podia ser encontrada na Bahia, no Ceará, no Espírito Santo, em Goiás, no Maranhão, no Mato Grosso, em Minas Gerais, no Piauí e no Rio Grande do Norte.

  • Três bromélias

Aechmea blumenavii reitz

Aechmea kleinii reitz

Aechmea pimenti-velosii reitz

Ambas podiam ser encontradas em Santa Catarina.

  • Um cipó-escada-de-macaco

Bauhinia smilacina (schott) steudel

Podia ser encontrada na Bahia e no Rio de Janeiro.

  • Um gonçalo-alves

Astronium fraxinifolium schott

Podia ser encontrado na Bahia, no Ceará, no Espírito Santo, em Goiás, no Maranhão, no Mato Grosso, em Minas Gerais, no Piauí e no Rio Grande do Norte.

  • Um pau-de-rosa

Aniba roseodora ducke

Podia ser encontrada no Amazonas e no Pará.

Os principais fomentadores de destruição

Os mesmos dados coletados pela BCGI destacam que os três principais causadores desses problemas são atividades humanas, sendo eles:

  • A exploração de madeira

Dados levantados pela Rede Simex em parceria com o Instituto Centro de Vida (ICV), com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (IDESAM), com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON) e com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA) apresentam números extremamente perigosos. Segundo esses órgãos, a exploração de madeira destruiu mais de 464 mil hectares da região amazônica entre agosto de 2019 e julho de 2020.

Conforme a pesquisa, 50,8% desse desmatamento ocorreu no Mato Grosso, 15,3% no Amazonas e 15% em Rondônia. Além de ocorrer em propriedades cadastradas em sistemas estatais, essa destruição também atingiu assentamentos rurais, terras indígenas e unidades de conservação.

Em entrevista cedida à CNN Brasil, a pesquisadora do IDESAM, Tayane Carvalho, explica falhas públicas abrem brechas para essa destruição. Segundo ela, “(…) as terras não destinadas são áreas públicas que ainda não tiveram seu uso decretado. Por isso, não tem autorização para serem exploradas e ficam suscetíveis a ações de ilegalidade. Precisamos de políticas públicas que contemplem essa questão”.

  • A pecuária

Segundo uma projeção desenvolvida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), para acompanhar o crescimento desse setor seria necessário desmatar entre 634 mil e 1 milhão de hectares da região amazônica por ano até 2030.

Mesmo possuindo altas constantes desde o início do século XXI, esse crescimento foi ligeiramente suavizado através do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM), promovido em 2004 pelo governo federal brasileiro.

Entre as ações utilizadas, estavam o aperfeiçoamento da fiscalização e punição de infratores, a criação de áreas protegidas, o condicionamento do crédito rural, o boicote de produtos associados à destruição de florestas e o incentivo à preservação através de famílias pouco abastadas. Apesar disso, o cenário ainda continua extremamente grave.

  • A produção agrícola

Um relatório desenvolvido pela Planet Tracker indica que o desmatamento para a abertura de espaços para agricultura e para a pecuária estão alterando o regime de chuvas no país, interferindo diretamente na eficiência dos plantios de duas safras anuais.

Conforme apontou a pesquisa, “(…) evidências recentes sugerem que a temporada de chuvas está mudando nas áreas desmatadas da Amazônia. No estado de Rondônia, o início das chuvas mudou, em média, 11 dias nas últimas três décadas. No entanto, onde o desmatamento pesado não aconteceu, o início das chuvas não teve alteração significativa”.

Os reflexos internos e externos

A disseminação desse problema se estende a níveis ainda mais profundos, conforme indica o estudo realizado pela BGCI. Segundo a entidade, além de atingir a flora brasileira, essas alterações alcançam diversas áreas do planeta.

Conforme os dados apresentados pela companhia, existem pelo menos 180 espécies de árvores diretamente ameaçadas de extinção devido ao aumento dos mares e condições climáticas severas. O artigo ainda destaca que “(…) isto é particularmente preocupante porque muitas ilhas têm espécies de árvores que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar”.

Por isso…

É extremamente importante investir em organizações especializadas locais, que auxiliem na preservação e nas atividades governamentais de maneira consciente e eficaz.