ICMBIO sugere que identificação desse cenário é ‘resultado direto do grande universo abrangido pelo esforço de avaliação’

Conforme apontou um levantamento publicado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), 716 espécies entraram na lista de animais ameaçadas de extinção no Brasil. Entre elas, estão:

  • Ararajuba (Guaruba guarouba);
  • Ariranha (Pteronura brasiliensis);
  • Baleia-franca-austral (Eubalaena australis);
  • Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis);
  • Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus);
  • Cuxiú-preto (Chiropotes satanas);
  • Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus);
  • Macaco-aranha-de-cara-preta (Ateles chamek);
  • Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia);
  • Onça-pintada (Panthera onca).

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Analisando os dados divulgados pelo ICMBIO

Imagem de Ariranha descansando em galho de árvore
Ariranha

Estruturado pelo ICMBIO, a última edição do documento Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção foi produzida em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e divulgada no ano de 2018. Nesse sentido, apresenta dados referentes a análises desenvolvidas desde 2008. Além disso, as medições são realizadas através dos seguintes critérios:

  • População

O número total de indivíduos de uma espécie capazes de se reproduzirem.

  • Tempo geracional

O tempo de renovação de indivíduos de uma espécie.

  • Extensão de ocorrência

O menor espaço em que se pode identificar a incidência de uma espécie.

  • Fragmentação da população

O distanciamento de indivíduos através de populações mais vulneráveis.

Através deles, cada espécie analisada pode ser inserida em um dos graus de risco de extinção. Três dessas categorias não fornecem um diagnóstico preciso por diversos motivos, sendo elas a “não avaliada” (NE), a “não aplicável” (NA) e a “dados insuficientes” (DD). No entanto, cada divisão subsequente concebe dados extremamente concisos, estruturados em oito níveis:

  • Menos preocupante (LC);
  • Quase ameaçada (NT);
  • Vulnerável (VU);
  • Em perigo (EN);
  • Criticamente em perigo (CR);
  • Regionalmente extinta (RE);
  • Extinta na natureza (EW);
  • Extinta (EX).

Segundo o Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção, 716 animais passaram a compor as categorias VU, EM e CR durante suas últimas medições. Ao todo, são 1.173 animais nessas mesmas três divisões.

Quais são as causas?

O mesmo material publicado pelo ICMBIO posiciona a agropecuária como a principal atividade responsável por essas mudanças. Em seguida, constam a expansão urbana e a produção de energia, assim como é possível observar no gráfico a seguir:

Conforme aponta o artigo, a agropecuária se destaca como uma das ações mais predatórias nesse sentido, uma vez fragmenta e diminui os espaços e a qualidade das áreas de existência de diversos animais. Segundo o texto, “(…) essas atividades atingem 58% das 1.014 espécies continentais consideradas ameaçadas”.

Mesmo postos em colunas distintas, a expansão urbana e o aumento do consumo de energia podem ser diretamente relacionados, conforme sugerem dados recentes publicados através do Boletim trimestral de consumo de eletricidade, desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Elétrica (EPE). Conforme apontou a entidade, a utilização desse insumo cresceu 12,8% no segundo trimestre de 2021 em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Para acompanhar esse aumento, diversos investimentos estão sendo feitos nesse setor, conforme indica um levantamento da CNN Brasil publicado em setembro desse ano. Segundo a empresa, “(…) o país tem 19 usinas termelétricas em construção e uma nuclear. Juntas, elas vão adicionar 5.080 megawatts ao Sistema Interligado Nacional (SIN) até 2026”.

O ICMBIO complementa essas informações através do Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. De acordo com a entidade, também são fatores consideráveis a “(…) construção de barragens e represas para empreendimento hidroelétricos, parques eólicos e linhas de transmissão”.

Além disso, a soma desses pontos aliados a diversas outras atividades humanas contribuem com o aumento da degeneração da água, do ar e da terra. Segundo a pesquisa, “(…) a poluição, seja industrial, urbana, ou agrícola, causada pelo uso de agrotóxicos, é a quarta ameaça que mais afeta as espécies continentais, atingindo principalmente os invertebrados”. Nessa lista, constam nomes como borboletas, caranguejos-de-rio, colêmbolos e moluscos límnicos.

Por fim, a organização destaca que “(…) outros fatores, como extração florestal, empreendimentos de transportes, introdução de espécies exóticas e domésticas, assentamentos, incidência de doenças, desastres naturais, aquicultura e destruição de mangues, também foram citados como fatores que afetam as espécies”.

E na Amazônia?

A predominância desses problemas na região amazônica se altera consideravelmente se comparada a outras partes do país. Segundo o ICMBIO, os principais agravantes para a potencial extinção de animais nesse espaço são a produção de energia, a agropecuária e a caça e captura de animais. Confira o gráfico:

Em números brutos, a Amazônia é o terceiro local no Brasil com o maior número de espécies ameaçadas de extinção, com 182. Em seguida, estão a caatinga, com 131, os pampas, com 77, e o pantanal, com 38. No entanto, a mata atlântica e o cerrado lideram essa contagem, com 596 e 308 respectivamente.

Além do ICMBIO…

As projeções desastrosas apresentadas pela entidade podem ser complementadas através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a pesquisa Contas de ecossistemas: espécies ameaçadas de extinção no Brasil 2014, divulgada em 2020, o país possuía 3.299 espécies de animais e plantas sob risco de desaparecimento até o ano de realização do levantamento, números equivalentes a 19,8% das 16.645 categorias analisadas.

Além disso, o artigo corrobora os causadores desses problemas, destacando a caça predatória, a destruição de espaços e a introdução de espécies exóticas. Mais uma vez, a poluição aparece como um dos fatores mais relevantes, posição realçada por outro estudo, dessa vez estadunidense, publicado pela revista científica Nature em 2012. Segundo o material, a redução da fauna e da flora pode causar reflexos tão graves ao meio ambiente quanto a poluição.

Portanto…

Organizações independentes sempre devem ser consideradas como alternativas para auxiliar nessa preservação, colaborando e fiscalizando atividades estatais de maneira crítica e eficiente.