Atividades naturais e humanas são fatores determinantes nessa equação

O artigo “Global maps of twenty-first century forest carbon fluxes”, assinado por mais de 30 cientistas, concluiu pontos significativos para o debate sobre o aquecimento global. Segundo a pesquisa, a região amazônica pode estar contribuindo com o aumento das temperaturas do planeta. Porém, ao contrário do que se imagina, a conclusão apenas fortalece o perigo de ações sem responsabilidade ambiental, como:

  • A construção de barragens;
  • A formação de pastos;
  • As queimadas;
  • O desmatamento.

Quer entender melhor o conceito desse relato? Continue no nosso texto!

Afinal, quais são os detalhes desse artigo?

O material em questão foi financiado pela National Geographic Society e publicado pela revista Frontiers ainda em 2021. Conforme revelou o estudo, algumas áreas desse ecossistema têm produzido mais carbono do que retido. Essa narrativa tem ganhado diversas manchetes ao redor do mundo, e faz parecer que a existência dessa região pode ser prejudicial para o meio-ambiente.

Porém, ao se analisar o conteúdo desse artigo, é perceptível o equívoco na interpretação feita por alguns desses portais. Na verdade, o ponto levantado pela produção reforça, mais uma vez, os perigos do uso inconsequente dos recursos naturais locais, como florestas e rios. No fim, o trabalho avalia o impacto cumulativo desses processos.

Isso pode ser percebido em um dos trechos, que afirma: “As principais fontes [de aquecimento] de curto prazo incluem combustão e desmatamento associados à conversão para agricultura, indústrias de extração ou represas. Embora os incêndios feitos diretamente para fins de desmatamento tenham sido, historicamente, o principal impulsionador das emissões relacionadas ao fogo, as queimadas que atingem as florestas afetadas pela seca são cada vez mais dominantes e devem aumentar”.

Nesse sentido, é notável o despreparo de alguns órgãos governamentais, que costumeiramente focam em um único problema ambiental e negligenciam outros. O próprio exemplo das usinas hidroelétricas (ou represas) é válido para ilustrar esse ponto. Nacionalmente, é perceptível uma concordância coletiva em relação aos benefícios desse tipo de projeto, que frequentemente é listado como um modelo de geração de energia pouco agressiva. Porém, a comunidade científica possui ressalvas quanto a esse tópico.

Uma matéria publicada na BBC News Brasil em 2013, por exemplo, promoveu alguns debates sobre esse assunto. Na postagem, o pesquisador Paulo Barreto atribuiu parte do crescimento dos desmatamentos da época à essas construções. Segundo ele, diversos elementos colaboram com esse impulsionamento, como a valorização de terrenos próximos a esses locais. Sem fiscalização adequada, essas áreas ficam vulneráveis a atividades ilícitas, como a grilagem.

Além disso, outros fatores humanos são cruciais para o aumento das temperaturas detectadas nesses ambientes. Porém, como foi demostrado pelo próprio artigo, a natureza da floresta também pode servir como obstáculo.

Esse bioma pode aumentar a temperatura global?

Imagem de termômetro na grama

Utilizando o termo menos científico possível, podemos responder esse questionamento com “mais ou menos”. Afinal, sim, esses espaços estão sendo responsáveis por um pequeno aumento da temperatura global, mas isso se dá a união de fatores naturais e principalmente humanos.

Em outro trecho do artigo “Global maps of twenty-first century forest carbon fluxes”, o professor de estudos ambientais da Skidmore College, Kristofer Covey, falou sobre o assunto. Segundo ele: “O desmatamento da floresta está interferindo na absorção de carbono, o que é um problema (…). Mas, quando começamos a avaliar esses outros fatores juntamente com o CO2, é bem difícil visualizar que o efeito líquido não signifique que a Amazônia como um todo esteja de fato aquecendo o clima global”.

Essa ação pode ser percebida com mais clareza através das óticas química e matemática. Em números gerais, a Amazônia retém 17% de todo o carbono armazenado em vegetações no mundo. Dessa maneira, por possuir um clima predominantemente úmido, suas enchentes podem intensificar o efeito estufa.

Isso acontece por conta de uma reação no solo dessas florestas, intensificada pelo aumento das enchentes na região – muitas delas causadas por interferência humana. Em linhas gerais, os micróbios que vivem nesses locais se proliferam por conta dos alagamentos e, naturalmente, produzem metano. Além de ser extremamente agressivo, esse gás é de 28 a 86 vezes mais potente que o próprio CO2.

Em um dos conteúdos de divulgação desse artigo, a National Geographic ressaltou a importância de medições mais amplas, que não se restrinjam apenas ao CO2. A companhia afirmou que dados sustentados por esse pilar “(…) simplesmente não fornecem uma representação precisa”.

No fim, o maior questionamento que pode ser estruturado a partir dessa pesquisa é sobre o que deve ser feito a partir de agora. E nós vamos tentar explicar.

Quais os próximos passos?

Apesar de apresentar um modelo menos habitual que outros estudos desse meio, o artigo “Global maps of twenty-first century forest carbon fluxes” traz reflexões parecidas com as que são apresentadas normalmente. Basicamente, precisamos mudar urgentemente nossos padrões de exploração de recursos naturais.

O problema causado pelos micróbios da região, por exemplo, pode ser causado de diversas maneiras, desde a construção de represas até a exploração de minérios. Por serem atividades, normalmente, controladas e fiscalizadas por companhias estatais, é de suma importância que essas instituições cumpram seus papéis, mesmo com o enfraquecimento promovido na esfera federal.

Elevar o padrão mínimo de funcionamento desses locais e promover a conscientização privada também são passos esperados, que continuam flutuando na inércia das máquinas públicas. Enquanto isso não for transformado em regra, materiais como o publicado na revista Frontiers continuarão reduzidos a conhecimentos não aplicados.

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