As madeiras ilegais extraídas da Amazônia brasileira estão sendo exportadas para os Estados Unidos e países da União Europeia. A informação é do grupo ambientalista londrino Earthsight. Segundo relatório divulgado pela instituição, a comercialização ocorre após suspensão das sanções governamentais a Indusparquet, maior exportadora de pisos de madeira do Brasil.

A empresa brasileira, que está crescendo nos Estados Unidos e na Europa, é acusada de estar vinculada ao desmatamento ilegal na Floresta Amazônica. Mas mesmo com as evidências, continua atuando no mercado.

O próprio Ibama foi responsável pela apreensão de mais de 1.800 metros cúbicos de madeira em uma filial da Indusparquet em 2018. O valor estimado chegava US$ 2,5 milhões. Na época descobriu-se que um agente do Ibama estava envolvido. De acordo com denúncias, ele ajudava madeireiros ilegais a “lavar” sua matéria-prima com a emissão de licenças falsificadas.

A partir de 2019, todas as acusações contra a empresa Indusparquet foram retiradas. Com isso, a multa de R$ 482,3 mil também foi anulada. Além disso, a nova gestão do Ibama liberou mais de 1.600 metros cúbicos de madeira apreendidas à exportadora.

Quando questionado, o órgão governamental alegou que os argumentos da Indusparquet foram convincentes. Segundo eles, o problema estava relacionado a um erro administrativo.

A empresa acusada negou qualquer irregularidade, lamentando ter sido envolvida em suspeitas infundadas. De acordo com o comunicado da Indusparquet, tudo não passou de interesses políticos.

Aumento das exportações

A Earthsight não está convencida com as alegações da empresa brasileira. Em um levantamento feito pela instituição ambiental foi identificada uma possível violação dos regulamentos de importação.

O relatório da organização londrina aponta que nos Estados Unidos, o volume de importação da Indusparquet apresenta aumento de 15% desde 2018. Entretanto, não é apenas o estado norte-americano que compra da Brasileira, países como França, Itália, Dinamarca e Bélgica continuam adquirindo madeiras, que podem ter como origem o desmatamento ilegal.

O diretor da Earthsight, Sam Lawson, mostrou-se indignado com a situação. Para ele, a solução está em impedir a chegada das madeiras ilegais aos portos internacionais. “Cabem aos governos dos Estados Unidos, França, Bélgica e outros construírem uma política para que madeiras retiradas de maneira ilegal de florestas tropicais não sejam comercializadas no mercado internacional. Isso vai reduzir os danos causados na Amazônia e preservar vidas”, afirmou Sam Lawson.

Várias empresas envolvidas

Não é de hoje que o mercado brasileiro se utiliza das madeiras ilegais para comercializar a outros países.

No ano passado, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal entraram em contato com países europeus solicitando cooperação para o combate a exportação e importação de madeiras originárias do desmatamento ilegal da Amazônia.

A cooperação visa identificar empresas estrangeiras que importam madeira ilegal do Brasil. O outro objetivo é que os países apliquem algum tipo de punição às indústrias, já que o que estão fazendo é crime ambiental.

O procurador Leonardo Galiano afirma que os países não são culpados pelas importações de madeiras ilegais, mas, sim, as companhias instaladas neles. O procurador é responsável pela operação Arquimedes, que tem como objetivo desarticular a rede de exportação ilegal de madeiras.

Segundo Galiano, as madeiras são de alto valor agregado, sendo utilizadas na fabricação de móveis, pisos e outros produtos. Apesar de não ter números precisos, a operação Arquimedes estima que até 90% das madeiras exportadas para a Europa e outros continentes são de origem irregular.

A cooperação internacional realizada pelo Ministério Público Federal e a Polícia Federal não tem apenas a Europa como alvo. Os responsáveis também dialogam com os Estados Unidos para que as punições também sejam adotadas. As tratativas com os norte-americanos estão avançadas e buscam uma solução eficaz para o problema.

Dados da operação Arquimedes

Em 2017, foram apreendidas pela operação Arquimedes cerca de 10 mil m³ de madeira. Só para se ter ideia da dimensão, se o volume fosse enfileirado, cobriria o percurso entre Brasília e Belém (1,5 mil quilômetros). O destino da carga era empresas instaladas nos Estados Unidos, e em países da Ásia e da Europa.

O que já foi feito?

  • Em 2020, foram compartilhadas provas da operação Arquimedes, com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O acordo, visava a repatriação da madeira ilegalmente exportada.
  • Durante a operação foi descoberto que o manejo sustentável de madeira tem sido usado para favorecer os criminosos. Eles utilizam o manejo como pano de fundo para extrações ilegais na Amazônia.
  • Os investigadores buscam o compartilhamento de provas com diversos países e montam equipes conjuntas para o levantamento das informações.

Dados sobre o desmatamento

Levantamento do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontam que 2020 foi o segundo pior ano de desmatamento na Amazônia Legal desde 2015. Os dados revelam que uma área de 8.426 km² foi completamente desmatada. Em primeiro lugar aparece o ano de 2019, que apresentou um recorde histórico de 9.178 km².

O responsável pelos alertas é o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). O sistema revela sinais de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares.

O desmatamento causa muitos danos à Amazônia Legal, prejudicando a flora e a fauna. E é uma ameaça à vida humana. A Amazônia Legal corresponde a 59% do território brasileiro, abrangendo oito estados. São eles:

  • Acre;
  • Amapá;
  • Amazonas;
  • Mato Grosso;
  • Pará;
  • Rondônia;
  • Roraima;
  • Tocantins;
  • parte do Maranhão.

Durante todo ano de 2020 foram detectados recordes de desmatamento na área que deveria estar protegida. Julho foi o mês com maior índice de áreas sob alerta de desmatamento no ano: 1.658,97 km². Já outubro os alertas foram os mais altos para o mês desde 2015, quando o monitoramento começou.

Os meses de agosto e setembro não ficaram para trás. Na verdade, registraram os segundos piores índices dos últimos cinco anos: 1.358,78 km² e 964,45 km², respectivamente.

É para reduzir o crescimento do desmatamento ilegal que a Operação Arquimedes e organizações ambientais buscam a cooperação de vários países. Enquanto houver empresas importando as madeiras de extrações ilegais, mas risco sofre a floresta em desaparecer.