Você já ouviu falar em bioconomia? Este conceito moderno e ecológico refere-se a um tipo de economia sustentável que já virou tendência em países ultra desenvolvidos como a Finlândia, Alemanha e o Canadá, e vem chegando aos poucos no Brasil. A União Europeia lançou sua primeira estratégia bioeconômica no ano de 2012 e a tendência segue crescendo na região. “Hoje nós temos mais de 50 países e regiões no mundo que possuem estratégias bioeconômicas nacionais e regionais”, afirmou o conselheiro do Governo Alemão para Bioeconomia e ex-diretor da Comissão Europeia Christian Patermann. “É um grande sucesso, que não esperávamos.”, completou.

Na Finlândia, por exemplo, foi estabelecida a Estratégia Finlandesa de Bioeconomia tendo em vista uma economia mais sustentável. Além disso, todas as províncias canadenses assinaram nos últimos meses o Quadro Pan-Canadense sobre Crescimento Limpo e Mudança Climática, o que abriu caminho para um potencial boom bioeconômico. “O mundo inteiro está colocando em prática uma economia de baixo carbono e, definitivamente, bioprodutos são uma forma de atingir tal objetivo”, diz Judith Bossé, diretora geral de Recursos Naturais do Canadá. “Por isso, há muito interesse [na bioeconomia] neste momento.” finalizou.

Mas afinal o que exatamente é a bioeconomia?

Não existe uma definição certa para este conceito, porque ele envolve uma grande variedade de setores que adotam ações altamente tecnológicas de processos biológicos e de materiais orgânicos. Mas ela está relacionada à inovação, desenvolvimento e uso de processos e produtos biológicos nas áreas da saúde humana, da biotecnologia industrial e da produtividade pecuária e agrícola. Surgiu como resultado de uma grande revolução de inovações no setor de ciências biológicas e da necessidade urgente de melhorar as condições de trabalho e exploração da natureza ao redor do mundo.

Segundo Marc Palahi, director do Instituto Forestal Europeu, “A bioeconomia é uma mudança de paradigma. Basicamente, é uma economia baseada na vida”. Palahi ainda destaca que o petróleo, por exemplo, não é apenas utilizado para energia, como também para produzir uma grande variedade de materiais e produtos, desde o setor de plásticos até o de tecidos. A ideia é substituir o uso de petroquímicos por matéria orgânica na hora da produção.

Em suma, a bioeconomia é um plano de modelo econômico que se baseia principalmente na sustentabilidade, sendo resultado de inúmeras inovações no campo das ciências biológicas e da tecnologia que foram criadas com o intuito de:

  • Diminuir consideravelmente a dependência dos recursos não renováveis;
  • Minimizar ao máximo o impacto ambiental, transformando processos industriais e produtivos – Melhoria na qualidade de vida em sociedade.

Para isso, a bioeconomia depende muito do desenvolvimento de soluções de robótica, de avançadas tecnologias de informação, entre outros. Apenas se todos trabalharem juntos torna-se possível a criação de soluções mais adequadas à ideia e à pratica do desenvolvimento sustentável. Tudo isso envolve vencer uma série de diferentes desafios que vão muito além da preservação ambiental.

Mais quais são exatamente os benefícios?

Primeiramente, a bioeconomia “serve para desvincular crescimento econômico de danos ambientais”, de acordo com o James Philip, analista da Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para que isso ocorra, a bioeconomia tem de contar com mão de obra de muitos níveis diferentes, e, com base em dados da própria OCDE, ela gera uma média de 22 milhões de empregos, movimentando 2 trilhões de euros no mercado mundial.

Há quem veja a bioeconomia como um meio de economia circular, onde os produtos devem ser reciclados para que seus componentes voltem à cadeira produtiva, reduzindo, assim, a necessidade de se extrair mais matéria-prima.

Devido ao seu considerável potencial para abrir espaço a avanços tecnológicos e no âmbito de pesquisa e conhecimento, a bioeconomia é tida como um excelente caminho para encontrar novas soluções para os mais diversos desafios envolvendo segurança alimentar, mudanças climáticas, saúde e, inclusive, crises econômicas.

Por meio da bioeconomia, podemos:

  • Aproveitar melhor os recursos do planeta;
  • Minimizar danos e prejuízos;
  • Garantir alimentos e bens para a população geral;
  • Movimentar a economia e gerar empregos;
  • Melhorar a qualidade de vida de todos os habitantes do planeta.

O Brasil e a bioeconomia

Defensores acreditam que o Brasil, assim como a China e a Índia, ainda estão distantes de entender todo o potencial do sistema bioeconômico. No entanto, a preocupação do Brasil – e do mundo – com o desmatamento da floresta Amazônica é legítima, e cada vez mais órgãos não governamentais, públicos e privados tem tomado iniciativas para aperfeiçoar da melhor forma possível as qualidades de trabalho e extração, buscando alternativas para poluir e causar cada vez menos desmatamento. A adoção da bioeconomia como alternativa sustentável e viável surgiu neste contexto.

Mesmo assim a bioeconomia ainda é um conceito muito recente no Brasil. Mas a notícia boa é que nosso país, considerado o líder dentre os Países Megadiversos (lista de países que concentram mais biodiversidade no mundo), tem boas condições para se destacar. Segundo especialistas, existe uma possibilidade não tão remota do Brasil chegar ao topo do ranking mundial de bioeconomia. Para tal, além de conseguir vencer burocracias que envolvem fatores conturbados, como modelo de negócios e regulamentação, é necessário interesse e investimento na causa, para apostar no desenvolvimento de novos conhecimentos e explorar todo o potencial da biotecnologia.

James Philip, da OCDE, afirma que os anos de experiência do Brasil com a produção de etanol, apresentando a cana de açúcar como uma das mais importantes fontes de biomassa, é um grande fator de vantagem. Além disso, no Brasil temos a política criada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), chamada de Renovabio, e que visa dar crédito para aqueles que produzirem com mais sustentabilidade, e o Programa Bioeconomia Brasil de Sociobiodiversidade, lançado no ano passado pelo Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento (MAPA), que é basicamente um grupo de estudos de bioeconomia subsidiado dentro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC).

Ainda falta muito trabalho a ser feito para efetivamente conseguirmos salvar a Amazônia, mas o Brasil está o caminho certo para fazê-lo, buscando cada vez mais recursos, investimento e inovações. Se todos trabalharem juntos, a bioeconomia com certeza poderá ajudar.